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17 nov

Artigo – Alimentação na escola: um ato político

A cozinha é o coração da escola. E todas as vezes que 40 milhões de crianças e adolescentes brasileiros são alimentados diariamente, através das instituições públicas (segundo dados do Programa Nacional de Alimentação Escolar – Pnae), esta afirmação se torna mais verdadeira. Neste mês de outubro, quando é celebrado o Dia Mundial da Alimentação, é importante lembrar que comer é um ato diverso, particular, cultural e se conecta diretamente com o ato de viver.

A escola que ensina é a mesma que sacia e, por assim fazer, necessita do bom alimento, aquele que nutre a ponto de a criança viver com mais qualidade. E não é somente da saciedade física propriamente dita, mas também dos valores que se resgatam a partir do que se coloca para dentro do corpo e transforma a escola em um espaço de coletividade.

Desde o seu surgimento, em 1955, o Pnae pode ser considerado uma das políticas públicas mais importantes do país, porque garante que a fome não seja um empecilho para estudar e aprender. O financiamento do programa não acontece integralmente por parte do Governo Federal, e os recursos são complementados pelos estados e/ou prefeituras que entendem como inviável gerenciar os trinta e seis centavos diários destinados por pessoa para a alimentação escolar.

Dentro deste cenário, é fundamental que se reflita sobre que tipo de alimentação é oferecida nas escolas, de um modo que se considere como está a infraestrutura que produz essas refeições e como os governos estão cuidando das mãos que cozinham os alimentos.

Em um país vasto em extensão e com disparidade populacional e social, é importante ter consciência que a qualidade do que é servido pode apresentar diferenças alarmantes, ainda levando em consideração que os governos diferem em prioridades e estas mudam consideravelmente de quatro em quatro anos. 

Ou seja, não basta elaborar um programa alimentar de qualidade que coloque o olhar voltado para a diversidade de nutrientes e valorize a culinária local. É importante que ele permaneça independente de quem o governa. E é justamente neste ponto que o Brasil ainda caminha a passos lentos.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a escola fornece a única refeição do dia para, pelo menos, 14 milhões de crianças e adolescentes até os 14 anos de idade. São alunos que vivem na extrema pobreza, e este dado reflete ainda mais a importância e a responsabilidade que o Estado tem em mantê-las longe da fome, direito que é, inclusive, assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Refletir sobre a alimentação como prioridade pode significar que, partindo da ideia de que os alunos vão para escola se alimentar, que isso não fique restrito a este ato. É importante que a herança cultural que está atribuída a esta comida seja ensinada e que se possa levar o estudante a uma reflexão: do motivo pelo qual servem determinados alimentos nas escolas em diferentes regiões do país, levando este aluno ao aprendizado e a reflexão do poder histórico-cultural-geográfico que habita dentro do alimento.

Esse resgate da valorização do que se come promove um empoderamento local das pessoas, que, através do ensinar, podem se orgulhar do que veem no prato, compreendendo, dessa forma, que a comida e a cultura do Brasil andam lado a lado, e reconhecer que sua herança histórica é fundamental quando se fala da garantia de direitos.

 

Artigo publicado com exclusividade no portal Bem Paraná